10 de agosto de 2010

Alemão, o servente

Todo cidadão do mundo já deve ter se deparado com alguma pessoa, digamos assim, diferente. Entenda esse “diferente” como “um ser totalmente lol e fora da casinha”.

Lá por meados de quinta-feira, dia 5, iniciou-se um obra aqui em casa. Como você não deve saber, a nossa escada deveria ser reformada, por que a antiga tinha 14 metros de distância um degrau do outro, e a minha mãe só sabia reclamar com meu pai. Era uma gritaria quase diária.

Bom, finalmente, devido a circunstâncias de força maior, meu pai obrigou-se a ir à cata de pedreiros com alto grau de experiência na elaboração de escadas. E foi, justamente, o que ele não encontrou.

Na quarta-feira ele apareceu com os dois manos. Como eu estava no banheiro analisando a minha beleza no espelho, não vi os caras, apenas os ouvi. O que parecia ser o chefe dizia pro meu pai: - Pode ficar tranquilo, a gente vai fazer bem certinho. Se o senhor quiser, a gente faz assim... – E desse modo a conversa evoluía.

Eu, no banheiro, pensava: “pô, esses caras parecem ser bons”. E, realmente, não eram.

Pra inicio de conversa, o meu pai era o responsável pelo transporte diário dos dois. Eles não têm carro, e quem dera só fosse o carro, por que, além disso, eles não tinham NENHUMA MOTHERFUCKER FERRAMENTA DE PEDREIRO.

É o seguinte, agora que eu já lhe apresentei todo o contexto da história, voltarei ao real sentido do texto. Lembra o que diz o primeiro parágrafo? Não, né? Releia, por favor. Pronto? Continuemos.

Chegada a quinta-feira, conheci os dois cidadãos. O “pedreiro” (o que mandava) era gordin, tinha um cabelo grotescamente cheio de caspa e era feio, muito feio. O servente era um homem, aparentemente, comum. Mas aí é que eu estava enganado. Amigos, esse ser humano foi a criatura mais, exorbitantemente, gigantescamente, ignorantemente, LOL que eu conheci em toda minha fuckin’ life.

Seu nome: Alemão, o servente.

Como não podia deixar de ser, Alemão, o servente, é virador de copo profissional. Ele deve beber tanto que, estando sóbrio, ele fala que nem bêbado. O caboco não presta nem pra fumar cigarro, ao invés disso, fuma PAIEIRO. Que fedor lazarento. Mas isso não importa muito, o que interessa mesmo é a sua ingênua e estúpida inteligência.

Tive a oportunidade de ter breves diálogos com Alemão. E quê diálogos. Foram em momentos em que eu não estava fazendo nada, ou seja, praticamente, 100% do tempo. Enquanto eles (meu pai, Alemão e o “pedreiro) se fodiam com tábuas, pregos e martelo, eu ficava jogando pedras pra minha cadela ou ficava sentado pensando em como ser rico sem fazer esforço.

Mas quando Alemão parava para puxar um fumo, ele me fazia algumas perguntas. Eu, como tenho sociabilidade seletiva, não dava muita bola, mas prestava atenção no que ele dizia, por que percebi que renderia um texto aleatório aqui pro blog.

Fiquem atentos para essa mente brilhante. Em certo momento ele me perguntou com aquela voz embriagada:
- Tu estuda? - Eu respondi:
- Não, eu terminei o ensino médio há uns dois anos, e agora to parado. – Ele me olhou com uma cara de “hã?” e perguntou:
- Que que é ensino médio? – Nesse momento percebi que ele não havia passado muito tempo numa sala de aula. Tentei explicar:
- Tipo, o 3º grau, que vem antes da faculdade e talz... – Ele respondeu com um “hmmm”, mas eu tenho certeza que ele não entendeu. (suspiro melancólico)

A conversa continuou e, para a minha surpresa, ele sabia o que era faculdade. Perguntou:
- Aqui não tem isso, né? Tem que ir pra outros lugar? – Eu disse:
- Sim, ou Joinville ou Itajaí, mas tem em outras cidades também...
- Mas aí tem que pagar ônibus? – Disse ele.
- Pois é, tem, e não é barato. – Respondi. Nesse momento, ele desabafou:
- Culpa desse governo aí que não faz nada direito! Eles pegam o dinheiro tudo pra eles pra fica lá e nhem nhem nhem!! Eu vendi meu voto.
- Não sei se é a melhor alternativa... – Tentei explicar, mas ele me interrompeu:
- Ah, pedi 1 conto (mil reais) e vendi. Não adianta, vai ficar tudo a mesma merda!

Quanta sinceridade.

Em outro momento fizemos uma brincadeira com ele. O “pedreiro” me chamou e disse:
- Né que é verdade que ta escrito ”bla bla bla bla sou gay”, na camiseta dele? – Alemão, já desesperado, pergunta pra mim:
- É verdade, mesmo? Ou esse bosta aí ta zoando comigo? – Eu, como bom trollador que sou, respondi:
- É verdade, cara, ta escrito, sim. – Alemão ficou puto:
- Caraio, véio, não acredito! E eu saía bem machão na rua com essa camiseta! E andava lá e nhá nhá nhá nhá. Ô, quer comprar minha camiseta? – E ficou a manhã toda, invocado com a dita cuja.

Quanta inocência.

No último dia de obra, eu e ele estávamos fazendo concreto perto do portão da minha casa, quando minha vizinha passou na rua. Ele ficou olhando, olhando, mas, no momento, não disse nada. Passados alguns minutos, ele me pergunta:
- Ô, e essa gordinha ali?
- O que tem?
- Boa né? – Disse ele eufórico.
- Ah, eu não acho, cara. – Respondi.
- Pô, aquela ali eu comia. Ainda mais gordinha, tem onde pegar. Foda que é gordinha, muito mole, riáriáriáriá – Eu disse que ele é lol.
- Mas ela só tem 15 anos, cara. – Disse eu meio confuso.
- Só 15? Ah, já da pra meter. – E o maluco ficou a manhã toda invocado na gordinha.

Quanta falta de sexo.

E foram assim os três dias de obra na minha casa. Só ouvindo pérolas do mestre Alemão e vadiando na maior parte do tempo.

Mas depois de tudo isso, eu aprendi uma coisa: por mais que uma pessoa seja simples e ignorante no bom sentido (se é que tem bom sentido nisso), pelos menos uma boa história pra contar, ela vai te render. Ok, talvez a história nem seja tão bom assim, mas vocês entenderam o que eu quis dizer né?

A escada? Ah, sim, saiu, meio torta, mas saiu.

Abrasss, até a próxima.


Nenhum comentário:

Postar um comentário