8 de outubro de 2010

Desagradável, vida social

"O ser humano é uma criatura extraordinária. Imaginem só se tivesse bom senso." - Anônimo. (na verdade a frase é minha, mas achei que o Anônimo causaria mais impacto).

Quando a gente liga o botãozinho "vida social", coisas incríveis podem acontecer. E eu gostaria de saber por que ela insiste em avacalhar comigo. Mas, milagrosamente, desta vez não fui o único a ser avacalhado. Acompanhe.


Era sábado. Eu gostaria muito que estivesse nevando nesse dia, mas não estava. Alguns dias antes fui convidado para ir a uma festa nessa data. Um show, na verdade... Ou seria uma festa? De qualquer forma era uma dessas duas coisas. Concordei, claro, até por que não é todo dia que acontece esse tipo de evento aqui na minha cidade. Nesse momento, aposto que você está se perguntando que evento era esse. Óbvio que era uma festa Death Metal né, gente. Como vocês não perceberam? É uma coisa tão corriqueira!

Fui eu, Luhan e mais três amigos os quais darei nomes fictícios de Bruno, Felipe e Frederico. Estávamos numa ansiedade que chegava a quase sair do zero. Não faziamos ideia que músicas a maldita banda principal ia tocar. E muito menos se iriam mais pessoas fora nós cinco, ou quatro. - Frederico chegaria mais tarde, para a grande excitação de Felipe.

É muito importante que você possua amigos legais e confiáveis não só pra essa, como pra as mais variadas situações, por que, caso algo dê errado, pelo menos você vai rir um pouco, ou vai ter alguém pra te fazer companhia no hospital.

Chegamos ao fim de mundo onde era o show. Foi nesse momento que me dei conta de uma coisa: o que diabos eu tava fazendo alí? O lugar tava deserto, a não ser pelo arrependimento que, a todo momento, dava um tapa na cara de cada um de nós quatro. É importante se dizer que chegamos no horário indicado no folheto, mas deveriamos saber que metaleiros não se importam com horários. Falha. Mas também é válido informar que, apesar do cagaço que Jack Lenhador (nome dado pelo Felipe ao homem cabeludo e barbudo, com voz gutural e que parecia um lenhador) nos deu, das rodinhas punks e das lesmas, a espera foi divertida.

Ela (a espera) se deu até a chegada do primeiro grupo de maloqueiros. De inicio, já me causaram boa impressão (empunhavam garrafas de cerveja), mas, como não se julga a capa pelo livro, ou vice versa, não eram bem aquilo que eu imaginava. Eles eram grandes, feios e possuiam mulheres. Mulheres. Não que isso seja relevante. Claro que é relevante, seu idiota. Estar acompanhado de mulheres, é motivo de status entre o sexo masculino. É fato que você não vai poder olhar pro lado, mas pelo menos terá sexo garantido no final da noitada. E status.

Enquanto evitávamos encarar os maloqueiros, e imaginávamos nossas mortes, mais gente ia chegando. Gente muito esquisita, por sinal. Gente que nunca pensei que ia ver na vida, e que espero nunca mais ver.

Graças ao nosso amigo Frederico, conseguimos entrar, sem pagar, pelos fundos da casa antes do show começar. Bom demais pra ser verdade. Logo começamos a beber e logo fiquei bêbado. Algum tempo depois, enquanto conversávamos sobre o modo mais másculo de segurar uma latinha de cerveja, um mano careca e barbudo vem nos avisar que deveriamos pagar a entrada. Era bom demais pra ser verdade. Obedecemos, obviamente, por que era muito cedo pra apanhar. Depois de pedir desconto (em vão), comprar os ingressos, cantar a moça da bilheteria e constatar que, decididamente, o moço da fitinha não gostava de forró, adentramos novamente no recinto.

Aqui faço uma pausa na história para passar a vocês um importantíssimo tutorial de como se portar em um(a) show/festa Death Metal. É de suma relevância que você respeite todas essas regras. Caso contrario, não acontecerá, absolutamente, nada. De qualquer forma, vamos lá:

  1. Possua cabelo. Muito cabelo. Isso se você for homem. Você pode ser careca ou ter cabelo curto, mas aí tem que compensar de outra forma, como álcool ou barba, por exemplo. Essa regra não se aplica às mulheres.
  2. Quanto a vestimenta, para homens, é importante que seja preta. Pode ser branca, mas aí é bom que você já seja um metaleiro plus hardcore. É liberado camisetas de qualquer banda que seja de rock. A calça tem que ser jeans, e caso você já seja um metaleiro plus hardcore, ela pode ser daquela justa na perna. Use coturno ou similar. As mulheres podem usar e abusar do couro e do espartilho. Tudo justo pra assentuar as curvas. E não se esqueça do decote voluptuoso. Tatuagem é opcional para ambos os sexos. Se você já tiver uma, é bom que seja de algo que possua chifres e cara de mal.
  3. Homem: chegue com um grupo de, no mínimo, três pessoas (certifique-se que todos também sejam homens). Isso tem uma explicação lógica: se você se meter numa briga, os golpes recebidos serão distribuídos uniformemente entre os três, evitando, assim, que você entre em coma. Mulher: esteja acompanhada de, pelo menos, uma amiga. Certifique-se de que vocês duas sejam muito atraentes, caso contrario, correm o risco de eu querer dar em cima de vocês.
  4. E a mais importante de todas as regras: nunca, em hipótese alguma, chore num show de Death Metal. Tanto para evitar o seu próprio constrangimento, quanto o dos seus queridos amigos que nada tem a ver com a briga de você e sua namorada.
Depois de reentrar na bagaça, eu não me lembro de muita coisa ocorrida até a hora do inicio do show, afinal, como eu disse, estava bêbado. Sei que continuamos a beber avacalhadamente um líquido preto o qual meus amigos se referiam como Cuba. E sei também que três copos desse líquido haviam, por algum motivo aleatório, ido parar no chão - creio que meu dedo tenha sido um dos motivos.

O show foi um momento mágico pra mim. Pelo menos os dez primeiros minutos. Nunca pensei que um dia eu poderia chacoalhar a cabeça alucinadamente sem alguém me olhar e dizer "porque esse cara idiota ta chacoalhando a cabeça?". Eu fiz isso por um bom tempo, e mais tarde me arrependi de ter feito. Quando parei, imediatamente tive que ir me deitar. Eu estava passando mal. Fiquei inutilizável por, aproximadamente, meia hora, ou mais - o tempo não era uma coisa que eu estava apto a contar naquele momento. Depois da insistência de Bruno que já tinha vomitado duas vezes, fiz o mesmo. Vomitei. Uma vez foi o suficiente pra me deixar em pé novamente, mas ainda visivelmente alterado a ponto de cumprimentar mais duas vezes todos os meus amigos.

Havia uma gorda. Posso parar aqui de contar essa história, por que você já deve ter ligado os fatos. Só não vou fazer isso por que sei que você é sedento pela desgraça alheia.

A moça pesava várias dezenas de quilos e estava acompanhada por outra moça que mais parecia uma lêmure judiada pelo sol. Elas quebraram a importante regra número 3, e ainda por cima vieram ter conosco - acho que isso aconteceu por que eramos os rostos mais amigáveis do lugar. Papo vai, papo vem, risinho pra cá, mãozinha pra lá, Felipe começa a chorar. O quê? É. Mas assim do nada? É. Por quê? Namorada. Ah, achei que era algo mais sério. Nos constrangeu. É, isso é sério.

Pois é, amigos, só percebemos que ele estava chorando quando um cabeludo que estava avulso por alí, perguntou se ele era emo. Quando me situei do ocorrido, fiz a única coisa que só um amigo legítimo poderia fazer: eu ri. Ai, ai... Enfim, depois de UMA hora de lágrimas, soluços e registros para a posteridade com direito a poses trolls de Luhan e Frederico (registros esses que, infelizmente, como soubemos mais tarde, foram surrupiadas por algum meliante), um vazio existencial momentâneo invadiu a minha pessoa. Logicamente, fiz a coisa mais sensata que um bêbado poderia fazer naquele momento: fui tentar catar a gorda.

Para minha sorte, ela já estava acompanhada. Para meu azar, ela era uma vagabunda. Certificou-se que o carinha estava lá fora à sua espera, e veio a mim novamente. Por algum milagre de Odin, o ficante dela estava com pressa, então só deu tempo de eu dar uma triscada na boca da maldita, o que foi o suficiente pra, até hoje, eu ser trollado pelo Luhan.

Mas a noite, infelizmente, ainda não havia acabado, caro leitor. A mina cabeça de lêmure estava ali, dançando no meio dos maloqueiros, sozinha. Naquele momento eu a poderia nomear de Raimunda, feia de cara, mas boa de bunda. Fui em direção a ela e iniciei o encoxamento, mas aí, de repente, ouvi A FRASE. A ORAÇÃO SALVADORA DOS HOMENS À BEIRA DE COMETER OS ERROS DE FIM DE FESTA. AS PALAVRAS QUE SEMPRE SURTIRÃO EFEITO EM TODO E QUALQUER MOMENTO RUIM. ELAS, QUE SAÍRAM DA BOCA DE LUHAN E ENTRARAM COMO UM BÁLSAMO SAGRADO EM MEUS OUVIDOS. Eis que ouvi: VAMOS EMBORA. E assim fui salvo de mais uma armadilha armada pelo etílico. Mas ainda sim, e até hoje não sei porque, essa vagabunda gótica mordeu o braço de cada um de nós cinco deixando uma puta marca roxa e dolorida por duas semanas. Que bosta.

Ah, e compramos botons. =)


Péssimas fotografias dos botons

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Você se identificou com essa história? Não? Ok. Tá, mas mesmo assim, caso você, ou "algum amigo seu" tenha vivenciado algum caso parecido com esse ou pior, eu gostaria muito que você o compartilhasse conosco. Resolvi dar essa oportunidade a vocês, amigos, por que eu to afim, e também por que achei que seria interessante.

Caso você queira colaborar, mande seu texto para o e-mail neandertalsocial@gmail.com. Os melhores serão postados conforme a minha espontânea vontade.

Grande abraço a todos.

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